Panorâma Brasil

 O RÁPIDO, PORÉM MARCANTE GOVERNO JÂNIO QUADROS
por Gislene Souza
acadêmica em Relações Internacionais UNIBH
 
Após uma intensa e bem arquitetada campanha política, Jânio Quadros, assume o poder do governo brasileiro, em 31 de Janeiro de 1961. Antes dessa corrida presidencial, Jânio da Silva Quadros, advogado, nascido em Campo Grande, estado do Mato Grosso do Sul, em 1917. Transferiu-se com a família para São Paulo, onde iniciou sua carreira política. Em São Paulo, elegeu-se vereador, prefeito e logo governador do Estado, seguindo esse caminho de sucesso, Jânio, decide então em 1960, lançar a sua candidatura a presidência. Com um discurso voltado para moralizar o cenário político nacional e varrer a corrupção aqui instaurada, sua campanha teve como símbolo, a vassoura e o slogan slogan “varre, varre, vassourinha, varre varre a bandalheira”.
Em sua campanha, o líder político tentou mostrar-se carismático e populista, além de um candidato dinâmico de grande presença, que estimulava o público levando-o a confiar nele, isso o colocava juntamente com Getúlio, um dos maiores líderes carismáticos do Brasil. Jânio costumava andar com roupas amassadas e carregar sanduíche de mortadela nos bolsos a fim de ganhar ainda mais simpatia dos eleitores. Baseado em tais premissas, ele adquiriu expressiva votação por todo o país, se tornando o mais votado até então, dando a entender que o valor democrático, agora havia se consolidado no Brasil. No entanto, as contradições e a falta de um posicionamento político claro, conduziram o governo de Jânio Quadros a verdadeiras incertezas e desequilíbrios.
Quando Jânio assumiu a presidência em Janeiro de 1961, o Brasil já ultrapassava o número de 70 milhões de habitantes. Mostrou ser um político bastante conservador e autoritário. Logo de início, procurou controlar os sindicatos, mandou prender estudantes rebeldes, adotou uma política de austeridade e acreditou poder corrigir os vícios da administração pública reprimindo a corrupção. A princípio, o governo Jânio, se deparou com uma crise financeira aguda devido a intensa inflação, déficit da balança comercial e crescimento da dívida externa.
Deu início ao seu governo lançando um programa antiinflacionário, que previa a reforma do sistema cambial, forçando assim a desvalorização do cruzeiro e a redução dos subsídios às importações de produtos como trigo e gasolina, com tal medida, Jânio, buscava incentivar as exportações do país, e conseqüentemente equilibrar a balança de pagamentos. O governo se viu obrigado a adotar medidas drásticas, restringir o crédito, congelar salários a fim de fomentar essas exportações. A medida foi aprovada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), abrindo caminho para o governo então negociar a dívida externa brasileira. Em contrapartida, essa política teve um alto custo para a população, que sofreu com a elevação dos preços e dos transportes.
O governo Jânio conviveu com a descrença por parte política e social interna por ter adotado uma política econômica rígida e a estreita compreensão de política nacional levaram Jânio Quadros a adotar uma política externa independente. Restabeleceu relações diplomáticas e comerciais com o bloco comunista, o que desagradou profundamente ao governo norte-americano. Tal comportamento político acirrou os ânimos da oposição que cada vez mais se voltavam contra o seu governo. Essa aproximação junto a países comunistas se deu por meio de políticas econômicas desenvolvidas pelo então ministro de relações exteriores, Afonso Arinos, que se encarregou de alterar radicalmente o rumo da política externa brasileira, lembrando que, as relações diplomáticas Brasil- União Soviética foi restaurada.



Essa política externa “independente” protagonizada pelo governo Jânio, buscava essa aproximação comercial e cultural com os diversos blocos do mundo pós- guerra, essa aproximação provocou certa desconfiança e refletiu negativamente por parte de instituições e grupos nacionais que eram a favor de uma parceria automática com os Estados Unidos da América, o então partido de Janio Quadros União Democrática Nacional (UDN) rompeu suas relações políticas com o presidente, passando a defender o combate à esquerda. Tal desconfiança por parte da oposição, de países com Estados Unidos e vizinhos sul americanos aumentou após a visita do líder revolucionário e ministro da economia política cubana, Ernesto Che Guevara ao Brasil.
A visita do líder cubano deu-se após a Conferência do Conselho Interamericano Econômico e Social realizada no Uruguai, durante essa reunião o Brasil se colocou a favor do reconhecimento de Cuba como um país americano. O presidente Jânio Quadros, recebeu o líder cubano no palácio do planalto em Brasília, onde Che Guevara foi agraciado pelo governo brasileiro com a medalha do Cruzeiro do Sul. Essa condecoração deu-se pelo esforço diplomático de Che Guevara frente ao pedido do governo brasileiro para que o governo socialista cubano de Fidel Castro, cessasse a perseguição e torturas aos cristãos naquele país. Em agradecimento o ministro cubano salientou, a importância da posição do Brasil durante a conferência no Uruguai.
Esse encontro foi suficiente para que a popularidade de Jânio Quadros decaísse de vez, após forte campanha da oposição em classificar seu governo de socialista. A gestão de Jânio Quadros na presidência da República foi bastante breve, durou sete meses e encerrou-se com a inesperada renúncia em Agosto de 1961. A renúncia de Jânio Quadros resultou numa crise institucional sem precedentes na história republicana do país, pois após a sua renuncia João Goulart assume o poder deixando ministros e representante de classes dominantes insatisfeitos. O ápice dessa revolta deu-se quando o então governador do estado da Guanabara, atual cidade do Rio de Janeiro, Carlos Larceda, denunciou no dia 24 de Agosto daquele mesmo ano através da mídia televisiva, que Jânio Quadros pretendia instaurar no Brasil o mesmo regime político socialista implantado em Cuba.
Em meio a tantos acontecimentos, algumas versões históricas afirmam que Jânio não teria renunciado e sim deposto após dialogo com o general Cordeiro de Farias, comandante- chefe do exército da época, que exigiu que Jânio mudasse imediatamente a sua política externa, em resposta a essa exigência o presidente Jânio teria replicado ao general dizendo: “-Você está preso”; após essa réplica, o general havia decretado: “- E o senhor está deposto!”. Uma outra versão, que por sinal ficou como a mais conhecida sobre a renúncia de Jânio Quadros, afirma que em resposta as oposições acirradas e falsas notícias que vinculavam na mídia nacional, Jânio, irritado, teria simplesmente renunciado na expectativa de ser reposto no poder amparado pelo clamor público, e mobilizar o mesmo povo que o havia eleito, para mais uma vez ficarem a seu favor, e dessa forma voltar ainda mais forte. Mas tal plano não se concretizou. Após a sua renuncia Jaó Goulart assume a presidência do Brasil.
Em sua carta de renúncia acusou as “forças terríveis que se levantaram contra mim”, pelo fracasso do seu governo. Essas “forças terríveis”, jamais foram reveladas.
Depois deste acontecimento, Jânio decide ir para o exterior. Em 1962, ainda candidatou-se para o governo de São Paulo, mas não conseguiu ser eleito. Apenas em 1985, consegue voltar a carreira pública, quando foi eleito prefeito da cidade de São Paulo. Em 1992, Jânio Quadros, morre aos 75 anos.

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