Cultura

ANOS DOURADOS- REBELDIA, LIBERDADE E TRANSFORMAÇÃO

por Michelle Darc

acadêmica em Relações Internacionais UNIBH

 

Década de 60, conhecida também, como anos dourados, época em que quase todas as áreas da vida política, econômica e cultural sofreram uma grandiosa modificação da vida cotidiana. Foi uma época de revolução musical, feminista, de disputas políticas e de liberdade. Tudo isso ocorrendo simultaneamente em um ambiente hostil de guerras e conflitos *Ver Panorâma Internacional. Já em terras brasileiras, a década de 60, foi marcada pela presença de Jânio Quadros * Ver Panorama Nacional no poder, além da rigorosa Ditadura e suas estipulações do AI-5 em 1968. E, a Edição Especial Por Supuesto!® propôs um mapeamento dos principais acontecimentos que marcaram essa década de transformação

Estados Unidos

O período da década de 1960, nos Estados Unidos, foi marcado por várias reviravoltas na sociedade, e que, de certa forma, tiveram grandes impactos não apenas no ambiente doméstico, mas, também, externas propiciando uma mudança no estilo de ser da época. Um dos fatos da “Década Dourada”, como é conhecido, foi a Revolução Sexual das mulheres, também conhecida como Emancipação feminina, em 18 de Agosto de 1960, quando da criação da primeira pílula anticoncepcional, o Enovid-10. Em um primeiro momento (1957) foi vendido sob a desculpa de reduzir os incômodos menstruais, uma vez que o comércio de tal medicamento era proibido, fato que acarretou em sua produção sob grande sigilo. Essa descoberta abriu as portas para liberdade sexual das mulheres, já que, agora o sexo não se reduzia mais a função plena de reprodução. Tudo isso gerou, também, algumas implicações menos otimistas, como um aumento da desconfiança dos maridos e a maior possibilidade de contrair de doenças.

O auge da utilização da pílula anticoncepcional adquiriu força com a crescente presença da contracultura Hippie iniciada na década de 60. Com toda a liberdade e rebeldia da época, além da busca pela paz e da defesa do Meio Ambiente, os hippies podem ser considerados um prolongamento da contracultura denominada Beatniks, um movimento sociocultural iniciado na década de 1950 e, que subscreveram um estilo de vida anti-materialista, posterior ao acontecimento da II Guerra Mundial. Com seus estilos largados, os adeptos do movimento hippie, com barbas, cabelos cumpridos, roupas bastantes coloridas, túnicas e sandálias, buscavam criticar todo o ambiente político e social da época, marcado, principalmente, pela consolidação dos Estados Unidos como superpotência capitalista perante o resto do mundo. Além disso, os hippies pregavam o amor ao próximo, o que significava, também, a liberdade sexual. Outro aspecto valorizado era o uso freqüente de drogas, que na idéia hippie, proporcionava abertura da mente. O maior símbolo da cultura hippie foi o “Festival de Woodstock”, (1969) anunciado como "Uma Exposição Aquariana: 3 Dias de Paz & Música" , ocorrendo em uma propriedade rural no estado de Nova York, onde levou cerca de 500 mil jovens, que usavam drogas livremente, praticavam o amor livre e, ainda, alimentavam uns aos outros. Contaram com a presença de vários músicos, cujas letras expressavam criticas as questões sociais e as guerras atuantes. * Ver quadro abaixo com as atrações.

A contracultura hippie ultrapassou os limites da fronteira, atingindo outros países que tomaram conhecimento de seus ideais. Na década de 1970, o movimento atingiu o Brasil, porém, sem os efeitos políticos que motivaram o surgimento dos hippies norte-americanos, restringindo-se apenas às características estéticas, o que ficou conhecido como os “hippies de boutique”. A contracultura do movimento hippie marcou a geração da época em várias partes do mundo, e, também, conseguiu modificar o comportamento da sociedade, que se reflete até hoje, pela contestação de valores advindos de uma época em que se buscava o crescimento econômico e esquecia-se de questões tais como a ambiental.

Brasil

A década de 1960 trouxe algumas modificações musicais que refletiram na sociedade, influenciando toda uma geração, como a Jovem Guarda. Inicialmente, em 1965-69, resumia-se em um programa de TV na Rede Record comandado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia e, que passou a definir um dos mais marcantes gênero musical do Brasil, o iê, iê, iê, com isso, tornou-se mais um dos prolongamentos de uma tendência anterior, ou seja, a influência do rock’n’roll norte-americano da década de 1950 agregado com uma forte influência entre os músicos. Após o sucesso de Ronnie Cord, com o Rock Da Rua Augusta, chamando a atenção do público para as figuras de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, com seus rits: “Parei na contramão”, “É proibido fumar” e “Festa de arromba” consolidando a Jovem Guarda no meio artístico brasileiro. Foi justamente por isso que surgiu a oportunidade de criar um programa, chamado Jovem Guarda, indo ao ar pela primeira vez em 1965 que rapidamente conquistou o gosto do público adolescente e, somente em 1966 com o grande sucesso “Quero que vá tudo para o inferno”, que o programa atingiu seu auge e ocorreu a concretização da Jovem Guarda como tendência musical.

Entretanto, em meio ao grande sucesso da Jovem Guarda entra em cena um movimento baseado na contracultura, pois buscava propagar valores distintos daqueles padrões estabelecidos pela sociedade, misturando, assim, estilos e tendências como alguns elementos do rock jovem mundial, sons eletrônicos, guitarras elétricas e, ainda, a psicodelia hippie, tudo isso desembocou no movimento da Tropicália. Entre os membros mais importantes do movimento estão os músicos Caetano Veloso e Gilberto Gil, que sob influência do Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, aproveitaram da inserção de elementos estrangeiros no país, em conjunto da cultura brasileira, para criar um novo produto artístico. Conseguiram, também, causar extrema polêmica em uma classe universitária nacionalista, uma vez que, que acreditava que as influências externas na musica brasileira, não eram bem-vindas. Por tratar-se de um movimento que buscou romper barreiras, transformando toda uma sociedade, ao expor claras críticas ao governo ditatorial instalado no país, que restringia, em muito, a liberdade e a individualidade da população, o movimento sofreu impactos com a Decretação do Ato institucional nº 5, em 1968 (AI-5) e, com a prisão de seus idealizadores, Caetano Veloso e Gilberto Gil, que foram exilados para Inglaterra, bem como, outros membros do movimento, entre eles Chico Buarque de Holanda, na Itália.

O período de Ditadura brasileira entre 1964 e 1985, quando o país se viu governado pelos militares. Foi uma época polêmica, pois as instituições democráticas sofreram restrições, sendo marcadas por uma forte censura, perseguições e torturas daqueles que se posicionavam contra o vigente governo. *Para saber sobre a política brasileira em 1961, ver Panôrama Brasil .

Cuba

Com um passado com histórico de ditadura militar, sob controle de Fulgêncio Batista, década de 1950, surge a figura de Fidel Castro, quando liderou a formação de uma oposição contra Batista, denominada Movimento 26 de Julho. Após uma tentativa fracassada de ação, Fidel refugia-se em Sierra Maestra onde iniciam-se operações guerrilheiras, que ao se tornarem muitos organizadas, o movimento ganhou força e apoio popular para enfrentar Batista. Somente em 1959, o ditador foi derrubado, após uma greve geral, o que possibilitou a entrada das tropas de Fidel em Havana. Dessa forma, Manuel Urritia Manzano assume o poder, tendo Fidel como primeiro-ministro.

Devido a uma grande radicalização presente, onde observava-se alguns aspectos nítidos de problemas internos (reforma agrária) e , que, começaram a refletir no âmbito externo, entenda-se EUA. Como o governo não buscava controlar esse radicalismo, Fidel demite-se do cargo de primeiro-ministro, o que, consequentemente, levou à renúncia de Manzano, pelo apoio popular recebido de Fidel. Com a eleição à presidência de Osvaldo Dorticós Torrado, Fidel recupera o cargo de primeiro ministro. Devido ao afastamento dos moderados, descontentes com as articulações de Fidel, afastam do poder, abrindo espaço para a inserção dos comunistas, antes afastados. Tudo isso, possibilitou ao governo de Fidel Castro no contexto da Guerra Fria *Ver Panorama Internacional, se seu governo não era pró-capitalista era entendimento, então, como comunista. Sendo assim, o governo de Fidel não bem era visto pelos EUA (principal ator capitalista na época), pois a reforma agrária atingiu propriedades açucareiras norte-americanas, o então presidente dos EUA – Eisenhower – promove uma dura pressão econômica, ao cortar fornecimento de petróleo e, não se preocupar com os possíveis embargos econômicos estabelecidos à Cuba. Isso estimulou a compra de petróleo da URSS (socialista) o que propiciou aos EUA a restrição em relação ao açúcar cubano. Já em 1961, com Kennedy como presidente dos EUA, que rompe relações diplomáticas com Cuba, o que acarreta na decisão do então presidente, de invasão à praia de Girón, na baía dos Porcos, pelos exilados cubanos treinados por militares norte-americanos, tal empreitada fracassou e, em 72 horas os norte-americanos foram derrotados. *Ver Baía dos Porcos

Outro aspecto da cultura cubana é o de possuir uma grande diversidade de ritmos, onde pode ser evidenciado o “nascimento” de diversos ritmos já conhecidos, como bolero, mambo, guajira, chachachá, além do son, base do que tornou-se salsa. A música cubana chegou a alcançar territórios transnacionais, possibilitando a ampliação do espectro alcançado pela industrial musical de línguas espanholas. Entretanto, com o embargo econômico conferido pelos EUA, na década de 1960, quando da Revolução Cubana e a Invasão da Baía dos Porcos e, da crescente influência que o rock’n’roll começava a exercer, propiciou em uma queda no interesse pela excelente música cubana. Por outro lado, pode ser observado um movimento criado internamente, a Nova Trova Cubana (1968), resgatando, dessa forma, a importância da forte tradição trovadoresca do país. Nascido em 1968, por um grupo de músicos cubanos e na região oriental da ilha, em Santiago de Cuba, onde músicos bohêmios percorriam a cidade fazendo suas músicas em bares ou, até mesmo, em praças públicas. O nome que mais destaca-se no quesito Nova Trova Cubana é o de José Sánchez, cujas letras deste e, de vários outros interpretes buscavam através de suas letras criticar os acontecimentos que vigorava na época, a Revolução Cubana de Fidel e Guevara. Ver Cuba em revolução .

Anexo Cultural
 London London
Música composta por Caetano Veloso em seu exílio


I'm wandering round and round, nowhere to go

I'm lonely in London, London is lovely so

I cross the streets without fear
Everybody keeps the way clear

I know I know no one here to say hello

I know they keep the way clear

I am lonely in London without fear
I'm wandering round and round, nowhere to go

While my eyes go looking for flying saucers in the sky (2x)

Oh Sunday, Monday, Autumn pass by me
And people hurry on so peacefully
A group approaches a policeman
He seems so pleased to please them
It's good at least, to live and I agree

He seems so pleased, at least
And it's so good to live in peace
And Sunday, Monday, years, and I agree

While my eyes go looking for flying saucers in the sky (2x)
I choose no face to look at, choose no way
I just happen to be here, and it's ok
Green grass, blue eyes, grey sky (2x)
God bless silent pain and happiness
I came around to say yes, and I say

While my eyes go looking for flying saucers in the sky