KALKI GUEVARA
A Edição Especial de “Por Supuesto” entrevistou a Kalki Guevara, sobrinho neto de Che. Kalki tem 22 anos, é brasileiro, mineiro, filho de uma italiana e um boliviano, bacharel em Relações Internacionais pelo Centro Universitário de Belo Horizonte e Pós-Graduado em Direito Internacional pela Faculdade Miltom Campos e atualmente se encontra na Austrália, um dos países que está conhecendo em mais uma de suas viagens pelo mundo.
Kalki: É da familia do meu pai, mais especificamente por parte da minha avó.
PS: O que representa hoje, no século XXI, ser um familiar de uma das personalidades mais influentes do século passado? Os aspectos são mais positivos ou mais negativos?
Kalki: Trata-se de uma situação/relação interessante, e para mim é uma honra. Quanto aos aspectos em sua maioria são positivos, pois grande parte das pessoas tem interesse e procuram se informar, abrindo espaço para boas conversas e troca de experiências.
Kalki: Ao abordar esses assuntos é importante tomar o máximo de cuidado para não se confrontar com questões políticas, doutrinárias ou ideológicas, responsáveis por sérias polemicas. Acredito que um dos motivos principais em que consagraram a imagem do Che tal como é nos dias de hoje, se deve ao fato dele ter sido uma personalidade importante e crucial no desenrolar da Revolução Cubana, na qual além de ter sido umas das principais na America Latina, teve êxito – tanto que suas conseqüências perduram até hoje em uma Cuba que se destaca do restante do continente -, e defendia a libertação de um sistema autoritário e de repressão da época.
Kalki: Todos os fatos históricos e que repercutem no mundo possuem suas controvérsias. Nesse sentido é natural que haja divergências de opiniões entre estudiosos e historiadores, e isso na minha visão é positivo, pois abre espaco para mais pesquisas e estudos acerca da historia que nos envolve.
Kalki: Acredito que na época da Revolução Cubana, e em seu desenrolar, os objetivos em geral eram os mesmos. Portanto as ações giravam em torno dos mesmos ideais, que eram os de se libertar de uma dominação estrangeira.
PS: Hoje o retrato de Che, feito por Alberto Korda,é estampado em toda parte, desde os muros como obra de pichadores, como pôster que enfeita quartos de milhões de jovens, passando por um biquíni vestido por Gisele Bündchen em um de seus desfiles e como uma manifestação de truculência e mau humor nas tatuagens de Maradona e Mike Tyson. Você acha que as pessoas realmente entendem o propósito de Guevara quando fazem o uso de sua imagem? Deve haver algum limite quanto a isso?
Kalki: Quando certa coisa ou fato histórico se torna famoso e vai passando de geração em geração, é natural que pessoas distintas, em diferentes lugares do mundo, tenham interpretações diversas. E isso faz com que muitas vezes uma certa idéia, ou imagem, tome muitas formas, mas não acho que se deva haver um limite pois a imaginação faz parte do gênio humano.
PS: Você acredita que a forma brutal com a qual Che foi morto é um fato crucial para que ele fosse cristalizado historicamente falando?
Kalki: Com certeza. Acho que a trajetória da vida do Che, e nesse caso levando em consideração também as circunstancias em que foi morto, cativaram as pessoas a se interessarem pelo assunto e foram fundamentais na construção de sua imagem.
Kalki: Penso que esta imagem esteja mais ligada à noção e idéia de que cada pessoa tem a respeito do que foi o Che, podendo variar em muito de acordo com a concepção de cada um.
PS: Che é autor de frases como: “Há que endurecer-se, mas sem jamais perder a ternura" e outras como "Fuzilamos e seguiremos fuzilando enquanto for necessário. Nossa luta é uma luta até a morte" que acabam favorecendo um enfoque mais totalitário de sua imagem. De acordo com o que você já ouviu falar dentro de sua família qual dessas chega mais próximo daquilo que realmente era Che Guevara?
Kalki: Não é fácil ter-se uma idéia precisa do que “realmente” foi o Che, mas acredito que as duas frases possam encaixar-se em seu comportamento e no que representou, devido ao fato de ter participado de um movimento revolucionário em que se faziam importantes adquirir a confiança do povo e o temor do adversário.
Kalki: É claro que as circunstâncias eram especificas naquela época, mas se o propósito do Che foi libertar o povo cubano de um domínio, assim como outros povos que estivessem em situação parecida de subordinação, então acho que o êxito foi logrado, pois pelo menos despertou a atenção e interesse das novas gerações.
PS: Che é eterno?
Kalki: Mesmo havendo divergências de idéias e conceitos, sua imagem se tornou famosa e perdurou ao longo do tempo. Como não existe um padrão do que vem a ser o eterno, diria que o Che se tornou histórico exercendo sua importância no mundo e nas relações internacionais.
Ver também: Che
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